terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

ENTREVISTA: Sergio Ribeiro (ao Jornal Página Zero de 16/02/11)

‘Em 2011 o bicho vai pegar em Carapicuíba e tem que pegar’, disse Sergio Ribeiro
‘Nossa grande obra é o sorriso das nossas crianças; temos que devolver a esperança para as pessoas, que são o grande ativo da cidade’, disse o prefeito ao fazer balanço de dois anos de administração e projeção dos dois próximos 
Por: Daniel Soares e Wenilson Morais

PZ - Por estes dois anos, levando em conta sua proposta eleitoral, que nota o cidadão Sergio Ribeiro dá para o prefeito Sergio Ribeiro?
Sergio Ribeiro– Pra ser generoso comigo, nota 8.

PZ - E o que o senhor não conseguiu implementar ainda que possa representar uma frustração temporária?
Sergio Ribeiro – Ah, o destino do resíduo sólido do município. Nós conseguimos tirar dezenas de caminhões de lixo das ruas, que é entulho, resíduo de construção civil, uma área em que conseguimos avançar muito pouco, primeiro pela dificuldade de área, não dispomos de área que possa ser licenciada pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) e também avançamos pouco em coleta seletiva, estamos perdendo muito tempo para resolver a coleta domiciliar, tivemos que comprar caminhões, estruturar o sistema de coleta, então essa área ainda está deficiente.
Apesar disso, ao contrário de mim, a população dá uma boa nota para a coleta pública, temos pesquisa demonstrando isso. De 0 a 10, estamos com 8. As pesquisas são feitas pelo Instituto Via Pública, que tem profissionais ligados à USP. Mas eu sei que é necessário e possível fazer mais. Então, com certeza essa é uma grande frustração. Esperamos resolvê-la nos próximos dois anos.

PZ - E o que não estava no plano tão imediato e que o senhor se surpreendeu por realizar?
Sergio Ribeiro – Com a área da Educação. Logo nos primeiros dias eu tinha receio com a merenda escolar, porque resolvemos assumir o serviço que era terceirizado, que não conseguíssemos atender, que fosse uma transição traumática. O resultado foi excelente, gerou uma grande economia e hoje servimos uma das melhores merendas do país. Surpreendeu-me também a possibilidade de ter entregado o kit escolar logo no primeiro ano de governo. Nunca havia sido pago o resíduo do Fundeb (Fundo de Desenvolvimento e Manutenção do Ensino Básico) porque alegavam que a cidade não tinha dinheiro. Surpreendeu-me a possibilidade de pagar 14º salário, pagar bônus de R$ 1 mil a R$ 11,8 mil. Outra surpresa foi a ampliação da rede que tinha mil vagas em creches e em um ano e meio chegamos a 4 mil vagas. Outra coisa importante foi em 6 meses ter colocado a folha de pagamento em dia. Conseguimos pagar na data o 13º, que há dez anos era pago sempre em março. Ter implantado o Senai na construção civil, logo no primeiro ano, ter aprovado o novo Código Tributário, outra agradável surpresa. São muitas coisas que a gente imaginava conseguir apenas no terceiro ou no quarto ano e conseguimos antecipar.

PZ - Dá para quantificar o impacto do novo código na receita de Carapicuíba?
Sergio Ribeiro – Em 2009, arrecadamos R$211 milhões. Estamos há dois anos sem aumentar o IPTU e em 2010 arrecadamos R$ 265 milhões, crescimento em torno de 25%. Junto com o Código, contribuíram a fiscalização, redução dos valores das taxas de licença do comércio, por exemplo, reduzimos pela metade, proporcionando mais formalização e aumento da arrecadação, aumentando não o tributo, mas a base arrecadadora.

SINALIZAÇÃO VIÁRIA

Os avanços do trânsito foram significativos, com a implantação da Zona Azul, sinalização viária, com a nova frota da Secretaria de Trânsito, tudo muito rápido em uma cidade que não tinha sinalização, parecia um vilarejo. Até junho deste ano vamos completar a implantação de 498 placas de orientação; e trocamos 3.300 placas de indicação de ruas. Coisas elementares para garantir a urbanidade. O centro da cidade vem virando rota de fuga do pedágio da Castello Branco.
Eu e o Emidio (prefeito de Osasco) teremos uma reunião com o Edson Aparecido, secretário de Desenvolvimento Metropolitano, para pedir mais recursos estaduais também para a conclusão do terminal rodoferroviário do Quilômetro 21 (ver matéria "Emidio e Ribeiro pedem ao Estado participação na reforma do terminal do Quilômetro 21",
Fiquei surpreso também como foi barato, pra colocar essas 3.300 plaquinhas que custaram R$ 176 mil. Como nunca havia sido colocado eu imaginava que custaria uma fortuna, muito pouco dinheiro para o transtorno que causava para o cidadão.
Eu tive o prazer e o pesar de ter instituído o marco zero da cidade, que não tinha, precisava dele como ponto de referência pra organizar a identificação das ruas. A cidade vai fazer 46 anos e não tinha marco zero, mandei o projeto para Câmara e foi aprovado, uma coisa sem custo, era só a iniciativa de mandar o projeto.
Quantos municípios ainda não tem um plano de carreira do professorado? Nós já instituímos o nosso, conseguimos aprová-lo apesar de ser polêmico, envolve a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) a aprovação foi unânime e está sendo positivo para os professores, para a Educação.

PZ - E como está encaminhado o que ficou mal resolvido?
Sergio Ribeiro – Na questão do resíduo sólido, estamos trabalhando o projeto de licenciamento da área, concentrando todos os nossos esforços nisso para instalar uma usina de reciclagem e entulho onde funcionava o antigo lixão de Carapicuíba, fazer uma central de triagem ali. Esse é um problema de todos os municípios da região metropolitana, ninguém apresentou uma solução definitiva.
O poder público hoje tem que enfrentar uma guerra com os bota-foras, porque o país está crescendo, a construção civil está totalmente aquecida e a tendência é crescer ainda mais por causa da Copa do Mundo e das Olimpíadas, vão gerar mais resíduo, mais entulho e não temos onde colocar.
E passa também por uma mudança cultural, porque o cidadão faz uma reforma de R$100 mil, R$150 mil na casa dele, mas não quer pagar R$150, R$200 para uma caçamba. Paga R$ 10 para alguém fazer o serviço com um carrinho de mão e o conteúdo é simplesmente jogado na primeira esquina.
Temos um caminhão que faz quatro viagens por dia recolhendo sofás no meio das ruas, então, vamos bolar um programa pra resolver isso, a cidade virou um cemitério de sofás.
Vamos dar destinação para o material cinza, que é resíduo de cimento e para o vermelho, que é barro, vamos usar na subbase de pavimentação, na fabricação de blokret e pisos intertravados, reduzindo o volume destinado ao bota-fora.

COMBATE AO ANALFABETISMO

Sergio Ribeiro - Outra grande frente será o do combate ao analfabetismo, temos em Carapicuíba uns 10% de analfabetos do total da população, que são aquelas pessoas que não reconhecem as letras. São 30, 35 mil pessoas, o que é absolutamente inaceitável e é difícil quantificar, porque muitas vezes a pessoa não assume que é analfabeta. Vamos fazer parcerias com entidades da sociedade civil, fizemos uma grande plenária com 98 delas. Vamos formar turmas de 15 pessoas que terão aulas na sala de alguém que ceda o espaço, em garagens, nos salões das igrejas, dos sindicatos, um barracão que a gente construir numa área livre, onde tiver 15 alunos iremos lá, empregando o programa Brasil Alfabetizado.
Vamos capacitar monitores voluntários, que receberão uma ajuda de custo de R$ 250 pra dar 10 horas de aula por semana. Vamos fazer parcerias também com as faculdades porque esse trabalho contará como estágio para o estudante. O monitor tem que ter nível médio e a capacitação da Secretaria da Educação. Nesta semana já formamos 150, incluindo um senhor de 91 anos e uma senhora de 92, que já foram alfabetizados, passaram a reconhecer as letras e agora vão para o EJA (Educação de Jovens e Adultos). Na interação, eles acabam desenvolvendo laços de solidariedade de fraternidade com esta juventude que muitas vezes nesta crise de valores do mundo ocidental acaba vislumbrando exclusivamente interesses individuais, para que ela possa no contato com essas pessoas de mais idade desenvolver laços, relações, aproximar gerações, estimular a tolerância.
Imagina um jovem que não trabalha, só estuda, e o pai paga a faculdade? Para ele o mundo é cor-de-rosa e nós queremos aproximá-lo da realidade do povo mais sofrido que não teve oportunidade de escolaridade. Esse alfabetizado vai ser transportado do século 19 para o século atual, porque nos dias de hoje, o Brasil sendo a 8ª economia do mundo, que produz mais carros que um país desenvolvido como a Alemanha, país que exporta 196 bilhões de dólares, é inaceitável que tenha um analfabetismo maior que o do Chile, do Paraguai, da Argentina! Criam ilhas de exclusão social. Mais escolarização também significa mais conhecimento, o que implica em mais saúde, por exemplo.
Tenho dito que 2011 é o ano de Carapicuíba. O bicho vai pegar aqui e tem que pegar! No primeiro ano assumimos praticamente dívidas, não tínhamos um convênio com uma Prodesp (Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo) para poder processar multas, porque devíamos para a empresa; devíamos R$ 25 milhões para a Eletropaulo, já negociamos, devíamos R$ 27 milhões para a Sabesp... mas não era esse o grande problema, mas sim o enfrentamento da maior crise econômica desde 1929, e embora o Brasil e o ex-presidente Lula a tenha enfrentado com grande altivez, o fato é que os investimentos dos governos federal e estadual e os privados ficaram todos em stand-by (em modo de espera) para ver o que ia acontecer.
Então, nosso primeiro ano foi de paralisia, não por nossa conta, aproveitamos para recuperar o que havia sido destruído, concluir o que havia sido iniciado, mas sem condição de começar coisas novas.
Aí veio 2010, ano de campanha eleitoral, que impede assinatura de contratos, contratações. Agora estamos num ano sem eleição e com o mundo retomando o caminho do crescimento, passou aquele primeiro grande susto, e nós retomamos num ritmo acelerado de desenvolvimento com mais confiança e com maior solidez

PZ – O senhor acha que isso reflete na receita?
Sergio Ribeiro – Sem dúvida, reflete no ambiente positivo, na liberação de recursos do Governo do Estado, e dou exemplo disso, ontem (dia 1º de fevereiro) nós tivemos a publicação no Diário Oficial da União da liberação de emendas parlamentares para o município de Carapicuíba que foram apresentadas em 2008 para reformas de unidades de saúde, foi uma série de emendas que foram liberadas, entre elas a dos deputados Fernando Chucre, João Paulo Cunha, José Genoíno, então nós tivemos pacotes que representam um bom momento para a cidade. São emendas para comprar instrumentos e materiais de médico, R$ 1,6 milhões para comprar tudo, desde o estetoscópio, a uma simples maca, porque muitos dos equipamentos têm 20, 30 anos de uso, então nós vamos poder trocar tudo. Bem como recursos para reformar e ampliar a UBS do Ariston, reformar a da Vila Dirce, da Adauto Ribeiro, do Santo Estevão; então é um conjunto de emendas que vai proporcionar reformar a rede inteira, o Pronto-socorro Infantil.

R$ 37,5 MILHÕES PARA PAVIMENTAÇÃO

No dia 4 assinamos um contrato com o governo federal de R$37,5 milhões para terminar o asfalto das áreas, que são 175 ruas na cidade que ainda falta receber asfalto; trata-se de um convênio feito com a CEF (Caixa Econômica Federal) tivemos a liberação também neste ano da praça do PAC que vai ser implantada na área da Inac, que vai ter cinema gratuito, academia de ginástica da terceira idade, salões de festa, quadra poliesportiva, e uma série de coisas, como já tinha antes a praça da juventude. Neste ano já começamos a construção do ginásio da Vila Dirce, começamos a reforma do estádio do Niterói, e já está em licitação a reforma do Tancredão, que desde sua fundação há 30 anos, nunca recebeu melhorias, inclusive estava interditado; também vamos fazer a reforma do Ayrton Senna.
Agora na segunda-feira (31 de janeiro) tivemos garantia do Ministério da Educação sobre a liberação de 5 creches que nós já havíamos anunciado, tivemos a confirmação que está tudo garantido e que nós não vamos mais perder esses investimentos, são cinco grandes creches,de 3.500m², a UPA da Santa Tereza, no Novo Horizonte já estão colocando a laje, que é uma grande conquista para a população. Eu não esperava que fosse tão rápido, por conta de como nós encontramos a Saúde; essa unidade vai desafogar o Pronto-Socorro da Vila Dirce de forma extraordinária, irá atender todas as ocorrências do Samu e mais a população da região do Novo Horizonte e do Santa Tereza, e quem vai ganhar com isso é Osasco também, porque a população daquela região vai tudo pra Osasco, para aquele posto do Santo Antônio, então vai melhorar, vai resgatar a dignidade do povo da cidade que precisa se deslocar para Osasco para poder ser atendido.
Também conseguimos a liberação de recursos ainda nesse pacote da Saúde, onde não foi construída nem sequer uma UBS nos últimos 12 anos e estamos construindo a UBS da Vila Helena com recursos próprios, que já está em obras, além de uma creche e um posto de saúde no mesmo bairro; outro posto no Capriotti, também com recursos próprios.
Com verba federal nós vamos construir o posto de saúde da Aldeia, do Jandaia e do Tonato, então veja bem, 12 anos e um posto de saúde, e nós vamos terminar o governo com cinco novos postos de saúde e mais um pronto-socorro. Na revista de campanha nós tínhamos prometido três postos e nós entregaremos 5. Aliás, quando eu olho a revistinha de campanha, eu tenho a clara convicção que nós vamos terminar o governo com 90 a 95 % dentro de tudo aquilo que nós colocamos na campanha.
Hoje nós criamos a GCM que foi um momento de muita felicidade, pois Carapicuíba era a única cidade da região que não tinha guarda, então o pessoal começa agora dia 28 o treinamento na cidade de Osasco, o prefeito Emidio disponibilizou a estrutura dele, assim como faz para diversos municípios.
Hoje (2 de fevereiro) eu assinei a portaria de nomeação das pessoas que passaram no concurso, que já realizaram o exame médico, os testes físicos, e assim nós teremos a GCM, pois quando eu assumi, a cidade nem sequer estava cadastrada no Pronasci, e eu demorei mais de um ano pra poder conseguir preencher os requisitos. O então ministro Tarso Genro, hoje governador do Rio Grande do Sul, teve de abrir uma exceção pra poder inscrever Carapicuíba para receber recursos para armamentos, para viaturas, que é isso que nós temos direito junto ao Pronasci.
O projeto Segundo Tempo também é muito importante, que nós já fizemos a licitação, serão quatro mil jovens que terão aula esportiva no contra turno da escola, com garantia de lanche, contratação de 122 monitores, mais coordenadores, e nós vamos contratar, todos sem exceção, sem critério político, serão estagiários de educação física para cuidar desses 4 mil garotos e garotas, em 50 polos que nós destinamos aqui no município.

PZ – Quais as principais obras que farão parte do cardápio de 2011?

Sergio Ribeiro - Além deste pacote da Saúde que eu citei, vamos ter R$ 13 milhões do Fumefi (Fundo Metropolitano de Financiamento e Investimento) para duplicar a Fatec/Etec da Lagoa.
Podíamos fazer obras de impacto físico, mas para mim, a grande obra é o sorriso das crianças e isso a gente persegue pela via da educação. Temos que manter acesa a esperança das pessoas, que são o grande ativo da cidade; por isso nossa preocupação com a construção de creches, que deixa livres as mães para reforçar a renda da família.

PZ – Pode dizer que tenha ficado alguma grande frustração?
Sérgio Ribeiro – Além do equacionamento do lixo, não ter completado o programa Cadaval (retificação e canalização do córrego e remoção de famílias das margens) que está demorando mais do que desejamos; mas pelo menos a parte de remoção das famílias vamos resolver com o excedente das unidades que irão atender às famílias da área da Savoy.

PZ - E politicamente, qual é balanço do período do senhor à frente do Executivo?
Sergio Ribeiro – Positivo também, acho que arejamos a vida política da cidade e o sentimento de pertencimento do carapicuibano, de identificar o surgimento de líderes. Passamos 16 anos sem conseguir eleger um deputado estadual com o grande colégio eleitoral que temos, agora a cidade elegeu logo dois, o Isac (Reis, PT) com mais de 100 mil votos. É sinal do aumento de conscientização da população.

PZ – E qual é o grande segredo para ter realizado o que o senhor conseguiu até aqui?
Sergio Ribeiro – Seguir o conselho de um grande economista, meu pai, imigrante nordestino e metalúrgico, que sempre me ensinou: nunca gaste mais do que ganha!

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